Ontem durante a palestra no IFCE me perguntaram: “como é seu dia a dia trabalhando com as questões ambientais” eu até respondi de forma “amena” porque não queria desanimar os futuros profissionais… mas sinceramente eu queria ter dito:
É gratificante às vezes, mas na maior parte do tempo é angustiante porque:
– As instituições públicas em sua maioria não atuam de forma adequada e não priorizam as questões ambientais. E se você tenta ajudar é rechaçado porque no alto da arrogância institucional eles jamais admitirão quando estão errados;
– As grandes empresas só querem contratar “gente de fora” por conta da “síndrome de vira-lata” que faz eles acharem que por aqui não existem profissionais de ponta;
– As pequenas empresas ficam naquela de achar que não precisam de gestão ambiental até serem multadas. Depois não entendem que a gestão ambiental é um processo contínuo e que não é “só conseguir a licença” que vai ficar tudo bem;
– Os profissionais da área não sabem trabalhar em parceria (com raríssimas exceções) pois não tem visão de negócio e só querem saber dos “percentuais” que podem ganhar de imediato;
– Os mesmos profissionais (com as mesmas raríssimas exceções) da área são incapazes de compartilhar qualquer iniciativa sua… não sei se por ciúmes ou medo de concorrência;
– Os Conselhos que representam algumas profissões muito mais dificultam a nossa vida do que ajudam (passei 8 meses pra conseguir uma declaração recentemente);
– Um bando de gente julga quem trabalha com meio ambiente como “ecochato” mas nunca parou pra verificar o quão sério é o que estamos tentando comunicar;
– Em reuniões institucionais quando você é apresentado como da área ambiental já torcem o nariz como se você fosse aquela pessoa que vai atrapalhar os projetos. Aloooow… existem técnicos sérios que trabalham na óptica do desenvolvimento sustentável sabia?;
– Você estuda muito e continuamente, se gradua (e faz várias pós-graduações) e ainda assim querem te pagar pouco ou quase nada por trabalhos técnicos rigorosíssimos porque a área ambiental é desvalorizada e “todo bicho de orelha” diz que sabe trabalhar com meio ambiente e concorre com seu preço. Ou seja… o seu preço é comparado com qualquer outro profissional independente da titulação ou da experiência;
– Os amigos mais próximos na maioria não estão nem aí pro que você fala sobre meio ambiente e não dão “aquela forcinha” nas divulgações a não ser que você morra de pedir;
– Você cria eventos pra proporcionar difusão de conhecimento e é julgado como se estivesse só fazendo marketing;
– Você usa suas redes sociais pra promover educação ambiental para jovens e adultos e ainda dizem que “você só quer aparecer”.
Pronto! Esse é meu dia a dia.
Isso é trabalhar com meio ambiente em Fortaleza/Ceará/Brasil.